A gente finge que arruma o guarda-roupa, arruma o quarto, arruma a bagunça. 
Tira aquele tanto de coisa que não serve,  porque ocupar espaço com coisas 
velhas não dá.  As coisas  novas querem entrar, tanta coisa bonita nas lojas por aí. 
Mas a gente nunca tira tudo. Sempre as esconde aqui, esconde ali, finge para si mesmo 
que ainda serve. A gente sabe. Que tá curto, pequeno, apertado. É que a gente queria tanto.
 Tanto. Acredito que arrumar a bagunça da vida é como arrumar  a bagunça do quarto. 
Tirar tudo, rever roupas e sapatos, experimentar e ver o que  ainda serve, jogar fora 
algumas coisas, outras separar para doação. Isso pode servir melhor para outra pessoa.
  Hora de deixar ir. Alguém precisa mais  do que você. Se livrar. Deixar pra trás. Algumas
 coisas não servem mais. Você sabe. Chega. Porque guardar roupa velha dentro da gaveta é
 como ocupar o coração com alguém que não  lhe serve. Perda de espaço, tempo, paciência e
 sentimento. Tem tanta gente interessante por aí querendo entrar. Deixa. 
Deixa entrar: na vida, no coração, na cabeça.
- Caio Fernando Abreu